Quando a alma se valoriza
Pelo que o coração bate mais forte? Que paixão move você? Sabe reconhecer seu valor e talentos? Saímos do ciclo de Câncer, de um momento mais introspectivo pelo contato com o passado e entramos no ciclo de Leão, em que a alma se manifesta em seu esplendor. É como o sol nascente, que traz cor, luz, calor e marca o início de um novo dia, com novas oportunidades criativas. O Sol já foi (e não deixa de ser ainda na atualidade) considerado Deus em muitas culturas, e de fato é o responsável por criar a vida. Leão, regido pelo Sol, carrega consigo a mesma característica. O amor pela vida só pode ocorrer caso haja amor próprio, e Leão carrega em si a essência do amor divino.
Modigliani – A Paixão pela Vida (Mick Davis, 2004) retrata a arte de viver deste pintor, a paixão por sua mulher Jeanne, e o clima de competição com Pablo Picasso. Nesta cena, vemos o lado romântico, criativo e criança do pintor, sua ousadia, coragem e capacidade de chamar atenção de um salão inteiro de festa, mesmo não sendo um pintor bem sucedido. O filme retrata seu difícil passado, vindo de família judia muito pobre na Itália, e como isso influenciou as escolhas erradas em sua fase adulta. Mas a criança artista sempre lhe acompanhou e aparecia nos momentos mais tensos para lembrar de sua vocação. Escutá-la, olhar para o que acontecia ao seu entorno e se dispor a largar o passado e traçar um caminho diferente para si seria essencial a seu sucesso, sendo este um dos motivos de sua rivalidade com Picasso, um dos pintores mais bem sucedidos na época. Picasso no filme parece ser retratado como um vilão, mas escondidas por trás de alguma artimanhas, mostra-se também um homem generoso, que acredita no potencial de Modigliani, tanto que nesta cena inicial do filme o chama de Deus, assim como faz , em um outro momento do filme, com Renoir, que já era extremamente bem sucedido e esbanjava dos luxos e prazeres em seu fim de vida.
Pode-se notar muitas características leoninas neste filme, principalmente em Modigliani, muitas vezes abafadas por um passado, mas sua impulsividade e criatividade demonstram a necessidade de se libertar disso e sua criança sempre aparecia para lhe lembrar do seu talento. O que nossa criança interior está querendo dizer agora? Passamos da fase de visitar o passado, devemos neste momento olhar para o futuro e começar a criar. O caminho pode vir com imprevistos, mas pode-se encarar isso como um sinal, a necessidade de mudar de rota, de olhar para frente, para o futuro e se desprender de todas as amarras de um passado, promovendo assim a mudança.
Observando o momento da Lunação, há uma conjunção com Marte e quadratura a Urano. Marte acompanhará o Sol por um tempo em sua trajetória por Leão e marcará presença também no momento da Lua Cheia, que será um Eclipse Lunar. Isso indica um período de muita energia criativa e também uma ação com vigor, voltada para atender as necessidades pessoais. Tem-se pressa em manifestar algo que aquece o coração, mas não apenas em impor a própria vontade como também exigir elas sejam atendidas, caso contrário gerará ansiedade, irritação e conflitos. A quadratura a Urano deixe o clima ainda mais volátil, em que a ação vem sem avisos e no susto pode acabar causando mais danos do que fazendo bem. A inquietação resulta em atitudes que fogem do controle e uma considerável intolerância com tudo aquilo que não é do próprio agrado. Será importante perceber que esforços tomar para atender as necessidades da alma, como se manifestar a criatividade em meio a um ambiente hostil. O que a quadratura traz como desafio é a capacidade de olhar para o novo e diferente, de fazer algo a favor da alma mas que provavelmente esteja fora da zona de conforto. Associando Leão à figura do rei, pode-se entender esse aspecto como a tentativa de governar um reino que não lhe obedece. Resta então ser mais criativo ainda e desviar um pouco o olhar do próprio umbigo para ver o todo, o coletivo, pois suas ações acontecem e transformam esse meio.
Essa condição pode ser mais sentida na Lua Cheia / Eclipse Lunar em Aquário. Eclipses Lunares impõe um conflito entre passado e futuro, mas todas as ações acabam sendo voltadas a este e o passado é ofuscado. Em um Eclipse a Lua, que rege as questões da família e passado, é ocultada pela sombra da Terra. O Sol (consciência) vence essa “guerra” entre passado e futuro e assim pode-se enxergar questões com mais clareza e desatar nós de impedimento. Aquário traz essa relação com o coletivo e com o futuro. Onde desejamos estar como indivíduos e qual impacto isso tem na sociedade? Como colocar nossas vontades e necessidades presentes em um ambiente que não agrada? A luta pela realização das próprias vontades continuará, tanto que Marte ainda se faz presente, opondo este Eclipse. Portanto, este momento pode ser o estopim de um conflito, tanto em nível pessoal, como social, que tem como objetivo manifestar o lado criativo pessoal.
Pode-se expandir essa questão em âmbito nacional. Temos uma sociedade dividida, com governantes que aprovam medidas e reformas que clamam ser para o bem do país no futuro, mas fere muito os direitos pessoais no presente. Com Urano e Marte em aspecto nesta Lunação não é de se admirar uma revolta maior neste momento, com greves e manifestações por exemplo. Em nível mundial, há um clima de pré-Guerra entre grandes potências. Em algum momento isso pode explodir em um conflito mais sério, em que o uso da força se faz necessário meio a impaciência. Seria lutar por direitos pessoais (ou de uma nação) e mostrar quem é que manda, quem é o rei. Mas que efeitos coletivos isso pode causar? Talvez o impasse deste ciclo seja mesmo o individual versus o coletivo, até que ponto estamos dispostos a lutar por algo pessoal sem ferir o todo? Deve-se olhar para o futuro e o novo e não repetir os “erros” do passado.
Ainda neste Eclipse Lunar há um trígono a Júpiter. Pode ser até bom brigar e exigir seus direitos sobre algo, mas não precisa fazer isso sozinho. Se um já é forte por si, imagine um grupo com os mesmos ideais? Júpiter, que está em Libra, vem proporcionar a expansão através da união e deixar ainda mais forte o caráter de libertação que tanto Urano no aspecto à Lunação, quanto Aquário no Eclipse trazem. Não é preciso matar alguém ou esbravejar para que seus direitos sejam atendidos, mas como no cenário exemplificado anteriormente, em um rei com um reino desobediente para governar, é ter jogo de cintura para saber o que pode fazer de diferente e por que não, também, unir forças até mesmo com o inimigo.
Olhar para o próprio umbigo é importante, a criança interior deve ser ouvida e as necessidades criativas atendidas, mas todos podem sair ganhando nessa e enxergar isso é agir também com o coração, mas em um sentido mais amplo, é ter confiança de quem é e das vontades que possuem mas sem impor sobre os outros. Um bom líder não é aquele que impõe autoridade, que se acha melhor que os outros, mas que se iguala ao mesmo nível para ajudá-los, e neste processo também aprende muito sobre si e se desenvolve naturalmente. Portanto, neste ciclo é preciso resgatar a imagem do rei, vestir a coroa e uma vez assumida essa confiança vale questionar que tipo de líder ou que tipo de rei seria: o generoso ou o tirano?
No momento os sentimentos borbulham na panela e agir por impulso pode parecer a única alternativa para liberar um pouco dessa energia. A criança ficou muito tempo em casa e agora quer sair para brincar e extravasar. Mas se isso resulta em danos, talvez não esteja fazendo da forma correta e aí se desprender de padrões passados e olhar para o novo e o futuro será importante. A luta para impor as vontades não tem fim e não precisa vir de forma agressiva, apesar de às vezes, principalmente em um clima tenso e impaciente, ser a única forma de chamar atenção. Isso faz com que se atraia situações igualmente tensas, mas também necessárias para promover as mudanças. Este ciclo pode ser apenas a primeira fase de mudanças, o reconhecimento que vem com ansiedade e mudanças sob tensão, pois precede um Eclipse Solar, que cairá no mesmo signo (Leão). Talvez aqui a criança esteja acordando, e ela tem pressa e fome de viver e nisso pode acabar se atropelando. No filme de Modigliani a criança aparecia, mas ele não a escutava e é isso que pode acontecer agora também. O potencial criativo pode ainda estar na fase de despertar sendo sua real manifestação no ciclo seguinte. Vamos aguardar.
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