O presente estudo, “Alma brasilis, imaginário e realidade”, analisa em profundidade o aspecto que se manifesta sob múltiplas formas no mapa do Brasil: a Lua em conjunção a Júpiter na 4ª Casa, em Gêmeos – luz e sombra da alma brasileira. Para podermos nos situar, e fazer as analogias deste aspecto com a realidade brasileira, farei um breve resumo dos elementos envolvidos, a fim de facilitar as associações com o conteúdo do texto.

Lua

Princípio feminino, receptivo, fecundo. Representa a matriz e origem de todas as coisas. São os padrões de comportamento.

Algumas analogias: mãe, mulher, povo, alimentação, instinto, imaginação, personalidade, instabilidade, alma, psiquismo, ingenuidade, inconsciente, emoções, passividade, docilidade, infância, multidão, crendice, lugares públicos, subordinação, indolência, timidez, suscetibilidade, hábitos e costumes, memória, passado, manifestações espontâneas, instinto de conservação, hereditariedade, o país.

Júpiter

Principio de expansão e crescimento. A função principal de Júpiter é de permitir ao indivíduo se integrar na coletividade. Simboliza o sentido de justiça, moralidade, ética e aspirações religiosas. Num sentido positivo, guarda relação com a benevolência, generosidade, amor ao conhecimento, abertura de novos horizontes, alegria de viver, cooperação social, crescimento espiritual e sabedoria. É a busca da maturidade e do exercício do livre arbítrio, da independência em relação ao pai e às figuras e imagens que dele se projetam ao longo da vida.

Num sentido negativo, relaciona-se com o desperdício, relaxamento, arrogância, mania de grandeza, ganância, tendência aos excessos, pretensão, falso orgulho, inabilidadepara ouvir críticas, esnobismo, ar de superioridade.

Algumas analogias: religião, leis, a sociedade em si, as elites, valores éticos e culturais, juizes, professores, Assembléia dos Estados, movimentos filantrópicos, administração, lugares de culto religioso, bancos, protetores, favorecimentos, jogos, fortuna, ostentação, o que é licito e ilícito, riquezas, sucesso, sorte.

Gêmeos

Signo associado ao princípio da versatilidade e mutabilidade. Comunicativo, aberto ao novo, com grande capacidade intelectual, aprendizado rápido, improvisação, adaptabilidade. Apresenta necessidade de se expressar, seja de forma oral ou escrita. Agilidade com os pés, mãos, olhos; curiosidade, bom humor, leveza, despreocupação, imitação.

Aspectos negativos: inconstância, superficialidade, dispersão, enganação, mentira, descontinuidade, inconsistência, astúcia.

Conjunção Lua / Júpiter

Natureza simpática, expansiva, generosa, protetora, sociável e otimista. Tendência a ajudar o próximo e expressar solidariedade. Honestidade, lealdade, espirito devoto, sentimentos religiosos e humanitários. Um pouco indolente, por confiar muito na divina providência e na sorte.

Casa 4

Relaciona-se com a família, as raízes, a pátria, condições domésticas, condicionamentos adquiridos, o inconsciente, sentimentos profundos, a alma. Também representa a terra e, num mapa de um país, o solo, a identidade como povo, o sentimento de patriotismo.

Origens da identidade brasileira

O Brasil é um país de identidade complexa. Sua história já se inicia de um jeito diferenciado, quase esquizofrênico, fazendo pensar no mito de Castor e Pollux, que representa a dualidade geminiana.

Esta identidade foi determinada por alguns fatos históricos peculiares. É o único país colonizado que, num determinado período, foi sede da corte imperial no lugar da verdadeira matriz – Lisboa, em Portugal. Os demais países da América Latina tinham em seu imaginário uma metrópole colonizadora distante, invisível, o que propiciava a formação de uma forte identidade nacional dentro do antagonismo colônia X metrópole. A metrópole significava um inimigo a ser vencido.

Aqui, o cenário foi outro: Dom João VI foge de Napoleão e instala-se no Brasil, ou seja, o oprimido acolhe o opressor.

Dom João, figura caricata, grotesca, comedor de frangos, escapulido da guerra e sua mãe, Dona Maria, a louca, representavam figuras de poder. Para confundir mais um pouco: o grito de independência, ponto de honra e de luta para construção de uma identidade nacional, foi proclamado pelo português Dom Pedro I, destituindo-nos do papel histórico de um confronto real com os opositores. O povo brasileiro não teve que lutar, concretamente, com um inimigo para conquistar a independência. Os próprios “senhores”, ou seja, o poder colonial colocou-se ao lado dos subjugados, proclamando a independência. Entretanto, jamais deixaram de agir como poder, com todaa brutalidade do poder absoluto quando se viram ameaçados ou questionados.

A identidade do país, assim, foi sendo construída no inconsciente coletivo do povo, no seu imaginário, neste cenário ambíguo. Uma identidade desajustada no que se refere aos papéis a serem assumidos, móvel, um tanto fora de lugar, sem contornos definidos, forjando uma tolerância incrível com situações absurdas.

Neste contexto, pode-se visualizar o aspecto paternalista e protetor da conjunção Lua e Júpiter na 4ª Casa, em que o colonizador proclamaa independência do colonizado.

A origem e formação da personalidade dos brasileiros, como recém-nascidos na época da independência, se dá num panorama ambíguo, onde a Lua (significando o povo e os oprimidos) e Júpiter (representando a aristocracia e a pujança) se encontravam colados no mesmo grau 6 no signo dual de Gêmeos do mapa da proclamaçãoda independência.

Esta condição desfocada e fora de ordem na “infância” do país o acompanhará em várias expressões, condutas e traços de caráter como nação e povo na adolescência e na trilha para uma possível maturidade ainda não vivida, talvez mesmo pela presença deste aspecto no mapa natal.

Nosso solo, nossa terra: exuberância e desigualdade

Júpiter na 4ª Casa enfatiza o gigantismo da terra, de proporções continentais e com imensas reservas naturais.

A Lua na 4ª Casa, associada às águas, aponta para imensos rios e bacias, para a floresta amazônica com toda a sua riqueza fluvial e um litoral de oito mil quilômetros, que pode ser explorado de várias maneiras.

Lua e Júpiter em Gêmeos mostram a tendência para uma biodiversidade espantosa. Os territórios, muitos ainda desocupados, apresentam múltiplos recursos passíveis de exploração.

A exuberância do país é completada por um subsolo cheios de minérios, fontes energéticas, gemas e pedras cobiçadas. São riquezas e belezas jamais ameaçadas por furacões, vulcões, desertos ou geleiras – e muito menos terremotos. O Brasil, com seu potencial para colher três safras por ano, com 400 milhões de hectares passíveis de serem cultivados, é o maior produtor mundial de frutas e o sexto de alimentos. Não é à-toa que no imaginário da cultura popular fixou-se o ditado “em se plantando tudo dá”.

Entretanto, ronda-nos a miséria. Por quê? É que Júpiter na 4º Casa privilegia a má distribuição de renda e de terras, favorecendo bancos, empresas, heranças das grandes oligarquias, que resistem de todas as maneiras à prometida reforma agrária, cogitada desde os tempos da proclamação da república. Primeiro, falou-se em acabar com a escravidão e fazer reforma agrária; depois, em industrializar o país e fazer reforma agrária… Fizeram? Até hoje não. São sempre promessas não cumpridas, algo típico de um Júpiter em Gêmeos: as palavras são em vão, não há compromisso com a verdade, muito menos com a justiça. Encontram-se no país alguns dos maiores latifúndios do mundo, existem propriedades que pertencem a uma única empresa, com 7 milhões de hectares! É uma situação difícil de mudar, pois as leis são conservadoras em relação à terra. A presença da Lua e Júpiter em Gêmeos ainda piora a situação, trazendo à tona certa displicência: apenas 40 milhões de hectares (10% do potencial do país) são cultivados, condenando à fome 32 milhões de brasileiros. A concentração de riqueza (Júpiter) é maior que a concentração de renda. A concentração de riqueza de patrimônio acumulado é a causa fundamental da concentração de renda na nossa sociedade. No Brasil, cerca de 40 mil grandes proprietários de terra (que representam 1% dos agricultores) acumulam metade de todas as terras. Os outros 4,5 milhões de pequenos agricultores são proprietários de pequena parcela, insuficiente para seu crescimento. Isto sem falar de outros 4,8 milhões de famílias que trabalham em terras de terceiros (quando trabalham!) – os sem terra.

Estes fatores fazem do país o campeão de desigualdade social. Não há nenhum outro em que os ricos sejam tão ricos diante dos pobres tão pobres. Um exemplo: somos o primeiro mercado mundial em aviões de pequeno porte, mas há milhões de brasileiros que jamais tiveram o direito de comprar um par de sapatos em toda a vida.

A faceta grandiosa de Júpiter, neste caso, apresenta-se de forma impiedosa e injusta, com ostentação e ganância desmedidas.

Outro aspecto onde se percebe a displicência com a terra é o total desrespeito com nosso maior patrimônio – o meio ambiente. Pelo fato de a Lua ser um fator inconsciente, as atitudes em relação à terra têm um cunho imediatista, sem planejamento (Gêmeos). Todo o crescimento foi desordenado, caótico (Lua em Gêmeos), sem a menor consciência, critério ou lei. Houve e há uma destruição ambiental sem precedentes. O desenvolvimento ocorreu com depredação da natureza, incendiando florestas, sujando e contaminando as águas. A degradação vem pela destruição provocada pelos próprios brasileiros, ou pela entrega, sem controle, das riquezas do país aos estrangeiros. Não há nenhuma reação para deter este processo,em que se misturam os interesses da especulação imobiliária, associados aos interesses pessoais das autoridades e à inércia dos cidadões.

A sociedade, de fato, possui recursos técnicos, econômicos e financeiros para continuar desenvolvendo-se sem agredir o meio ambiente. Possui, também, criatividade para superar tais desafios. Esta questão, mais uma vez, se encaixa no aspecto Lua em conjunção a Júpiter em Gêmeos. O imaginário coletivo do brasileiro ainda acredita e deseja moldar o país pelo caminho da imitação (Gêmeos) dos países ricos (Júpiter). Submissos a esta idéia, muitas vezes entregamos de bandeja nosso patrimônio, permitindo a exploração e devastação descomensurada de nossas reservas.

O outro problema ligado à divisão da terra e ao nosso meio ambiente e patrimônio está nos políticos, incapazes de uma visão nacional. Esta característica pode ser observada ao analisar-se aCasa XI como o corpo de políticos. Sagitário está na Casa XI e seu regente, Júpiter, na IV . A visão ampla, uma das características positivas de Júpiter, neste caso impulsiona os políticos a se prenderem a interesses específicos de sua corporação ou, no máximo, de sua base eleitoral. Tornam-se incapazes de sonhar, de serem idealistas por um Brasil melhor, o que seria o lado nobre, magnânimo e generoso da conjunção Lua / Júpiter.

As mesmas bocas que pedem o voto ou apoio, uma vez eleitas ou empossadas cospem na esperança do eleitor!

Nosso povo, nossa alma

A conjunção Lua / Júpiter na 4ª casa, no versátil signo de Gêmeos, insuflou uma riqueza e diversidade em sua potência máxima na alma e no povo brasileiro. Como diz o carnavalesco Joãozinho Trinta: “O brasileiro é um ser total”

Três povos primordiais formam a nação brasileira: o índio, o negro e o branco. Mas, na realidade, somos uma mistura de etnias. Acolhemos, de braços abertos, o sonho de ocupação de terras e liberdade de japoneses, europeus, árabes e judeus. Estes imigrantes miscigenaram-se indiscriminadamente, resultando num caldo cultural riquíssimo, somatório de vivências de todo o mundo.

E é nesta colcha de retalhos imensa que desponta a alma do brasileiro, tão emotiva, criativa e rica, exatamente pelas heranças culturais. É nesta alma pueril, solta, despreocupada, ingênua, extremamente adaptável, cheia de humor, ávida por alegria, que improvisa, que brinca e chora nas ruas, esquecendo rapidamente suas mazelas e injustiças, com invejável instinto para o prazer, que podemos encontrar a essência da característica de uma Lua em Gêmeos, uma característica acentuada para responder brilhantemente aos apelos, estímulos e imprevistos que vêm de fora.

Estes elementos se fazem presentes na magia de um repentista nordestino, na literatura de cordel, onde mesmo um iletrado faz versos narrando sua historia de maneira espontânea e criativa. Também se percebe a Lua em Gêmeos ao nos confrontarmos com maravilhosas engenhocas artesanais construídas com poucos recursos, invenções elaboradas e tocadas por mãos e pés ágeis.

É interessante observar que Júpiter engrandece tudo o que toca – e rege as nádegas, para não dizer a bunda. Junto com a Lua (paixão), só poderia materializar-se em dois símbolos nacionais: a bunda e o requebrado, o gingado da música criada aqui – o samba.

A soma da alegria e do talento explode nas ruas, em um dos maiores espetáculos da Terra: os desfiles das escolas de samba na Avenida Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, no Carnaval. Nestes momentos e em tantos outros, encontramos o Brasil Grandioso, que é o aspecto mais positivo da essência e alma da conjunção Lua / Júpiter. É ele que traz generosidade e dignidade ao povo, que quanto mais miserável mais comoventemente solidário nas alegrias e tristezas. Um povo que possui um raro talento de transformar em arte a realidade da vida, de encontrar sempre um jeito e uma saída para as dificuldades.

E é a síntese destes talentos, mais a sensibilidade de nos inspirar nas belezas naturais que nos rodeiam que faz com que a nossa música brasileira apresente uma profusão de ritmos apreciados no mundo inteiro, fonte de auto-estima para o povo. Chico Buarque, com o Sol e Lua em Gêmeos, é um dos compositores que mais sabe retratar a heterogeneidade do nosso povo e da nossa alma.

Também na literatura tal diversidade e fecundidade apresenta-se, de norte a sul, nas obras de Jorge Amado, Guimarães Rosa, Machado de Assis e tantos outros. Citar nomes de destaque neste campo ocuparia várias folhas.

É claro que Lua em Gêmeos traz uma multiplicidade de representações, inclusive os defeitos pertinentes às características involuidas desta associação, entre eles a passividade e o excesso de tolerância, já citados. É isto que nos impede de nos indignarmos e agirmos frente à corrupção e à injustiça social. Fica-se em pé na fila de um centro médico público, esperando horas um médico que não vem. Morre-se nesta fila e o povo não promove uma rebelião. Existe uma superficialidade que impede discutir até as raízesdos conflitos e questões fundamentais. O “jeitinho” brasileiro, que ao mesmo tempo representa o talento da improvisação, muitas vezes é pernicioso e custa caro, pois implica na busca por soluções baratas e rápidas, mas mambembes. Também significa um anseio porse querer tirar vantagem em tudo (a famosa “lei de Gerson”). Existe uma identificação com a malandragem, a irreverência – um dos temperos picantes na índole brasileira, tão bem retratada por Mário de Andrade ao criar o protótipo da figura nacional: Macunaíma, o herói sem pudor, sem caráter, indolente, sem leis, figura sempre presente no imaginário nacional e ancorada na república de malandros que se perpetua até hoje nos homens da lei e políticos (Sagitário na Casa XI e seu regente em Gêmeos na Casa IV).

Outro aspecto tipicamente geminiano é a tendência a imitar e achar bom tudo o que vem de fora (Lua e Júpiter em Gêmeos), mesmo que isto não seja bom para nós. Valoriza-se tudo o que é externo, em detrimento dos valores locais. O Brasil possui excelentes pensadores, cientistas, artistas e outros valores em várias áreas, que acabam brilhando fora do país exatamente por uma auto-estima baixa, que nos impede de prestigiar soluções próprias. Este aspecto, levado às últimas conseqüências, reflete-se na postura do país, submetido ao FMI, e que deixa de empregar, a cada ano, 65 bilhões de reais em educação, saúde, e combate ao desemprego.

Assim, resta ao brasileiro se identificar e projetar seu patriotismo (Lua) nas duas fontes de entusiasmo: o futebol e o carnaval (Júpiter em Cêmeos na 4ª Casa).

Brasil, país da fé

Júpiter-conjunção-Lua significa uma fé que move montanhas, “a esperança é a ultima que morre”: mesmo em situações difíceis e funestas, o brasileiro, arraigado neste aspecto da sua alma, crê que tudo vai melhorar, muitas vezes, como colocado anteriormente, numa crença desmedida e ingênua na providência divina.

Para um conforto da alma, esta conjunção necessita de um sistema de crença que proporcione um forte sentimento de segurança, agindo como um guia de como se comportar e conduzir-se no mundo do dia-a-dia.

A Lua, por sua própria natureza, é ligada à multiplicidade de formas, aos rituais, às crendices. Ao lado de Júpiter, estas características se avolumam e se proliferam intensamente. Este cenário fecundo, junto com o aspecto maternal de uma Lua na Casa IV, faz com que a religião se torne uma mãe que abraça e recebe todas as culturas, promovendo nutrição e amparo para as misérias e aflições da alma.

Com a Lua e Júpiter em Gêmeos, o povo tem a firme crença, de forma sincrética, que no sobrenatural tudo é possível, revelando com força todoo seu misticismo e religiosidade. O Brasil não viveu, a não ser por eco, um período histórico de racionalismo e antimisticismo, como os europeus que, em nome da razão, se indispuseram com a religião e as tradições espirituais. Nossa cultura não está calcada no racionalismo e no materialismo, pelo contrário. Para o brasileiro, Deus não é um problema, mas sim a solução de seus problemas. Para muitos, num delírio de grandeza jupiteriana, “Deus é brasileiro”. No intimo, seja por estímulo ou por pura fé, o povo sente-se acompanhado por Deus e pelas forças divinas a cada passo da vida. É só lembrarmos das expressões cotidianas: “Meu Deus”, “Graças a Deus”, “Deus lhe pague”, “Deus o acompanhe”, “Deus é pai”, “Quem dá aos pobres empresta a Deus” e tantas outras.

Invoca-se Deus no momento de necessidade existencial e muitos testemunham verdadeiros “milagres” que Deus fez para salvá-los de atribulações próprias dos pobres e destituídos socialmente. No fundo, a grande maioria sente-se protegida por Deus, mesmo que para isto haja uma multiplicidade de intermediações (Lua em Gêmeos) em forma de santos, anjos da guarda, ex-votos, e uma infinidade de projeções de cunho sagrado que povoa o imaginário do brasileiro.

Três tradições formam, historicamente, a sensibilidade religiosa: o cristianismo, as religiões indígenas e as afro-brasileiras.

O cristianismo veio com a colonização pelas via das missões. Posteriormente, expandiu-se nas diversas expressões evangélicas. Curiosamente, a igreja evangélica cresceu e se enriqueceu de uma forma assustadora, tornando-se um produto nacional de exportação, como o é a Igreja Universal (Júpiter na Casa IV). Não entraremos no mérito dos meios utilizados para obter tal abrangência, porém, olhando sob o prisma do aspecto astrológico, pode-se perceber que Júpiter em Gêmeos traz o dom da palavra, apresenta uma forte necessidade de “pregar” para expor um sistema de crença, uma analogia com o papel do pastor. A Lua, no seu afã de conforto da alma, muitas vezes torna-se cega e irracional, receptiva, influenciável e crédula a palavras convincentes (no caso de ser em Gêmeos). O mecanismo da conjunção Lua / Júpiter não difere das promessas eternas feitas pelas elites e políticos brasileiros, somente que, aqui, é polarizado no setor religioso, da fé e do fanatismo que, em nome da salvação, incita à entrega de riquezas (Júpiter).

As religiões indígenas entraram no sincretismo de base cristã, conferindo a percepção do divino imerso na natureza e na força dos elementos cósmicos.

As afro-brasileiras têm uma enorme contribuição (candomblé, umbanda, macumba e outras). Em sua crença, cada ser humano é portador de uma divindade. Esta visão inunda de magia o cotidiano, pois seus praticantes se vêem sempre acompanhados pelos orixás, santos protetores e pela mão última de Deus. Neste cenário, para tudo há solução e uma saída abençoada. Este clima religioso confere leveza, fé e sentido de festa a todas as manifestações populares. As festas religiosas dos cultos afro-brasileiros são manifestações de abundância do aspecto Lua / Júpiter: é nítida a alegria no batuque e nas danças, na suntuosidade das vestimentas, na generosidade das comidas. Aliás, dar comida (Lua) ao santo (Júpiter) é uma das expressões da religião. Cada divindade tem a sua comida especifica (Gêmeos).

Outra manifestação deste aspecto é o sincretismo religioso como amálgama criativo de muitas procedências, criando uma tolerância e respeito com todas as manifestações religiosas e espirituais, inclusive permitindo ao brasileiro professar duas ou mais seitas concomitantes, por exemplo, catolicismo e candomblé, espiritismo e protestantismo etc.

Esta dimensão religiosa e mística do povo promove a prática do bem, da caridade e solidariedade nas relações com o outro, fator intrínseco da alma do brasileiro. Este é um dos aspectos elevados da conjunção Lua / Júpiter: a vontade de ajudar o próximo, cuidando daqueles que são incapazes de cuidar de si mesmos. Cabe dizer que uma pessoa de Lua / Júpiter, quando se sente emocionalmente ou espiritualmente alimentada, tem capacidade muito além da média de suprir, alimentar, cuidar e acolher outras pessoas. É o aspecto da grande mãe.

Pode-se dizer que este é um dos pilares da Teologia da Libertação, em que algumas comunidades católicas de ideologia social consciente começam a inspirar-se nas tradições religiosas para uma lúcida compaixão dos excluídos, alimentando um sonho (Lua) de um Brasil mais justo, mais democrático, mais participativo (Júpiter na sua energia plena).

Comunicação, o talento brasileiro

O brasileiro é reconhecido no mundo inteiro por fazer bem futebol, música, propaganda e televisão, assuntos genuinamente geminianos. Vem de Gêmeos, também, o talento para aprender e assimilar tudo com grande curiosidade e rapidez, o que confere ao Brasil uma das suas maiores artes: o brilhantismo nas associações, instrumento vital para a comunicação (seu maior atributo).

Difícil encontrar um país em que a propaganda tenha tanta influência e importância como na vida do brasileiro. Aqui se discute propaganda em qualquer lugar, está na boca do povo. Fazemos uma das melhores propagandas do mundo e o setor mobiliza enormes recursos financeiros (Júpiter associado à riqueza em signo da comunicação).

A televisão é outro fenômeno brasileiro, não só por sua qualidade artística, criatividade, quantidade de talentos e eficiência técnica, mas também porque ela entrou profundamente na vida de cada cidadão (característica lunar). É também uma televisão de uma enorme solidez empresarial, o que lhe permite explorar qualquer recurso, tornando-a capaz de obter enorme projeção internacional (Júpiter em Gêmeos). No que se refere aos sonhos e fantasias, símbolos lunares, a televisão brasileira cumpre seu papel com maestria, criando novelasem que se desenvolve uma verdadeira realidade fantástica, um mundo à parte, onde as coisas funcionam bem, são bem feitas e com uma estética idealizada e totalmente asséptica. É neste mundo de sonhos e alienação que o brasileiro consegue digerir seu dia-a-dia e até humanizá-lo.

O lado subdesenvolvido desta mesma Lua em Gêmeos refere-se à superficialidade que reina hoje nos programas de televisão, uma televisão sem critérios educacionais em que erotismo desvirtuado, besteirol e violência imperam, corrompendo costumes, deseducando crianças, instigando no pobre anseios consumistas que não pode satisfazer. Enfim, imbecilizando.

É triste se ter uma televisão tecnicamente perfeita, com talentos tão criativos, que poderia ser um dos bálsamos para nossa pior chaga: o analfabetismo e a carência de educação. A televisão, por várias razões que não serão discutidas aqui, atinge principalmente as crianças em idade pré-escolar, crianças que ficam coladas ao aparelho de TV boa parte do dia, numa idade de grande assimilação e absorção de conhecimento. A televisão não informa apenas, ela forma e está criando um modelo cultural baseado na superficialidade, no descartável, no efêmero, na erotização precoce, no barato produto estrangeiro em detrimento de valores mais profundos e reais, sem critérios éticos e morais dentro de um princípio educativo – que seria um das essências de um Júpiter elevado.

Luz e sombra do aspecto Lua /Júpiter no cenário brasileiro

Não é possível, em uma análise que busca sintetizar elementos principais, descrever todos os paradoxos brasileiros contidos neste aspecto. Vou me ater a alguns pontos ainda não explorados.

A Lua, em sua essência, é passiva e semi-adormecida, principalmente na sua própria morada: a Casa IV. O brasileiro, “profissão: esperança”, ainda acredita na e aguarda a proteção e solução de seus problemas por parte dos governantes, num paternalismo justo que nunca veio e nunca virá. No imaginário, esta característica é reforçada pela colocação que justifica a preguiça: “Se eles não fazem, nós também não faremos”.

Neste mesmo paradoxo, os governantes sempre prometem tudo: educação, melhores condições de saúde, mais justiça, reforma agrária etc. O descumprimento das promessas, convenientemente esquecidas, é a nossa realidade, principalmente quando passa a pressão maiorsobre o assunto em questão ou o foco da mídia (Júpiter em Gêmeos: mentiroso, infrator das leis e assim por diante). O eleitor, a população, também esquece facilmente (Lua em Gêmeos marca a propensão ao esquecimento de tudo).

O amadurecimento, enquanto povo, surge quando o signo oposto, Sagitário, é encarado. É necessário aprender a definir objetivos, alvos a serem atingidos com ações concretas, direcionando a seta como o arqueiro que tem plena consciência de suas limitações, domina o tempo e o espaço, para, com livre arbítrio, decidir o momento certo de lançar a flecha. Júpiter, no mapa de um país, assinala as possibilidades de crescimento e amadurecimento quando a independência em relação aos pais (autoridades externas) é conquistada, seguindo seus próprios princípios e aprendizado.

No contexto nacional, isto significa assumir que é a própria sociedade que necessita cuidar do país, do solo, da preservação do meio ambiente, sem relegar a outros tais tarefas. De forma mais explícita, a presença e posição de Júpiter na carta do Brasil indica que é necessário cuidar dos nossos direitos, trabalhando para que a indignação transforme-se em ações, focando em uma cidadania madura e ativa, com reformas profundas, éticas, humanitárias, democráticas, novos padrões do ‘fazer político’, sem disfarces, sem dissimulação, sem corrupção. Não há nada que exemplifique mais um Júpiter em Gêmeos do que o excesso de medidas provisórias, muitos planos e modelos econômicos, muitas portarias e decretosem que todos camuflam a falta de um projeto integral, um direcionamento (Sagitário). Um bom exemplo deste descaso ocorreu quando Saturno em trânsito fez conjunção com Lua / Júpiter (junho de 2001): foi necessário assumir a falha do planejamento energético, impondo um racionamento que implicou em retrocesso na curva de desenvolvimento.

Possibilidades de superar os desafios

Investir nas carências geminianas presentes no Brasil significa, em primeiro lugar, investir na educação. Este é o primeiro passo para transformar os desafios em oportunidades. O potencial existe, e se encontra no mesmo aspecto, no seu lado luz: Paulo Freire criou o melhor método de alfabetização do mundo. No movimento sem terra, gente que não espera e improvisa, faz nascer, debaixo de cada acampamento de lona preta, uma escola. O projeto educacional do MST ganhou prêmio de educação alternativa em 1997 (quando Urano em trânsito fez trígono com a conjunção Lua / Júpiter).

Na realidade, estamos crescendo nestes últimos anos rumo a Júpiter como regente da Casa XI, que representa ações e formações de grupos independentes com ideais voltados para a comunidade. São as organizações do terceiro setor, cada vez mais fortes, cada vez com mais impacto na sociedade, promovendo as mudanças pelas quais todos anseiam. Talvez seja esta a resposta do Brasil para, de fato, atingir sua independência de corpo e alma, criando uma saída e um caminho para sobreviver com dignidade e qualidade, como aponta Sagitário.

Lydia Vanier é astróloga profissional desde 1978, com formação em Psicologia pela PUC SP. è presença obrigatória nos principais eventos de Astrologia do país e uma das responsáveis pela Regional de Santa Catarina da CNA, atuando principalmente em São Paulo com aconselhamento, aulas e oficinas.